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Palestra Parentoni

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Mensagem por bocaina Dom Abr 03, 2016 4:44 am

Opa, como prometido, aqui vai o convite da palestra do prof. Rogério Parentoni.

Palestra Parentoni Captur10


Tente comparecer! Quem quiser assistir, leia o texto que ele mandou pra gente:

Palestra ministrada para os alunos no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Conservação e Manejo da Vida Silvestre (ECMVS/UFMG).
Rogério Parentoni Martins
Pesquisador-visitante, Programa de Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal do Ceará
Bolsista da FUNCAP
O princípio consequencialista e o enigma dos urubus
Prólogo:
Terminada a graduação, durante a qual alguns foram bolsistas de iniciação científica, iniciam o mestrado e alguns já o tendo finalizado, ingressam no doutorado. Os ingressantes no mestrado, que fizeram iniciação científica, tiveram um contato bem preliminar com a prática de pesquisa científica. Porém, isso ocorreu em meio à certa turbulência causada pelo primeiro contato com teorias das diversas disciplinas que cursaram. Por isso, chegam ao mestrado com uma idéia incipiente sobre o desempenho da atividade científica. No mestrado terão a oportunidade de focalizar mais este objetivo, formulando um projeto de pesquisas em suas respectivas áreas e "botar a mão na massa". Esta é a verdadeira iniciação científica. Os ingressantes no doutorado, que já cumpriram essa etapa de formação, têm agora o desafio de formular por si próprios um projeto de doutorado que lhes permitam desenvolver a atividade científica plenamente e de forma independente. Independência que deve ser construída durante o doutorado. Ao concluí-lo vocês deverão ser cientistas capacitados a desenvolver seu próprio trabalho e constituir sua linha de pesquisa independente, à qual deverão se agregar estudantes das etapas anteriores. No entanto, apesar dos vários anos de treinamento, este é apenas um começo. Deverá ser um começo que lhes permita após alguns anos atingir suficiente maturidade científica para formular hipóteses não triviais e por que não teorias? Bem, isso é o desejável, é ideal, mas a realidade lhe exigirá um esforço talvez nunca experimentado anteriormente. Esforço de pensar detalhadamente em seu trabalho, para orientar seus alunos, para preparar suas aulas e seminários, e também comunicar os resultados do trabalho em forma de relatórios e trabalhos científicos. Esta é a realidade...

Introdução ao princípio consequencialista e enigma dos urubus

Tudo que se faz resulta em consequência; o oposto é verdadeiro também: o ato de nada fazer traz alguma consequência que lhe afetará ou a outros de diferentes maneiras. No curso da existência humana um ato efetuado em circunstâncias imediatas ou à distância trará consequências diretas ou indiretas, não apenas a si próprio, mas a vários protagonistas seus contemporâneos e futuros. No caso dos humanos veja-se a globalização das relações sociais, econômicas e políticas. Movimentos sociais relevantes em termos de mover grande quantidade de indivíduos propugnando por uma mesma causa, têm repercussão de diferentes intensidades em todas as partes do mundo. Nada mais exemplar do que a segunda grande guerra que movimentou a ação direta de milhões de pessoas e influenciou mesmo as pessoas que não foram submetidas às graves consequências dos confrontos diretos. Pacifistas que "nada teriam a ver com o peixe" sofreram também consequências do evento, alguns inclusive muitos anos após esse ter-se encerrado. Uma das grandes consequências foi a subversão da ordem social, política e econômica vigente à época do conflito e o estabelecimento de nova ordem econômica, política e social em nível mundial.
Em termos biológicos, melhor metabólicos, há um outro principio consequencialista, digamos "natural": A energia física que todos os organismos utilizam na execução de quaisquer atividades, não pode ser usada simultânea nem posteriormente para a realização de outra atividade; parte dela é perdida em calor durante a realização do ato. Essa restrição do uso de energia resulta no chamado "tradeoff" ou demanda conflitante. Em decorrência de limitações estruturais e funcionais os organismos nunca atingem sua capacidade potencial de desempenho. Embora a energia solar seja praticamente infinita os organismos são impedidos de utilizá-la em sua totalidade. Em termos biológicos universais, se um organismo gastar a maior parte da energia de que dispõe para sobreviver, consequentemente, terá menos energia disponível para reproduzir (lembrem-se também em nível de comunidade a restrição à evolução do número de níveis tróficos além dos seis possíveis.
Uma estratégia evoluída, dentre várias outras, se define pela demanda conflitante acima mencionada: a depender das condições ecológicas, variáveis no temo e espaço, há oportunidades evolutivas que têm maior probabilidade de êxito relativo. Exemplifico com as estratégias de uso da energia para sobreviver e reproduzir diametralmentre opostas: semelparidade e iteroparidade.

Organismos semelpáros se reproduzem em um único episódio apenas. A energia que despendem para o único evento reprodutivo é de tal magnitude que após reproduzir, entram em equilíbrio termodiâmico, em outras palavras morrem. O caso típico é o de uma espécie de salmão. Os indivíduos desta espécie investem todo seu tempo de sobrevivência para acumular energia suficiente, para à maturidade sexual possam empregá-la para reproduzir o máximo possível. Nestas ocasiões os ursos e as aves de rapina se banqueteiam nas foz do rio onde a reprodução ocorre...
Na outra ponta, os iteróparos despendem relativamente menos energia que os primeiros para reproduzir e, por isso, sobrevivem a vários eventos reprodutivos durante seu ciclo de vida, como é o caso do juazeiro, angiosperma perene. Em resumo, porque a energia disponível é limitada não a podemos usar para efetuar inteiramente duas ações biológicas universais: sobreviver e reproduzir perpetuamente.
Observava da pequena varanda de meu apartamento dois urubus voando relativamente baixo. Executavam manobras acrobáticas no ar. Pareceu-me que um as fazia de forma mais ousadas e o outro de performance mais comedida. Após alguns minutos dessas manobras, um deles seguido pelo outro pousaram no topo do prédio à minha frente e aparentemente ocorreu a cópula. A cópula foi realmente efetivada considerando-se que sejam dois indivíduos adultos com capacidade reprodutiva? Se de fato ocorreu, as manobras realizadas representavam o comportamento de corte? Se correto, por que esse comportamento evoluiu? É possível traçar filogeneticamente como se deu essa evolução? Estas são as quatros questões formuladas pro Niko Tinbergen que guiaram as pesquisas não apelas do próprio, mas de gerações de pesquisadores.
Os urubus não passam todo o tempo voando ativamente. Além das paradas, que chamaria de repouso para manutenção, alimentação, cuidado da prole, etc, quando forrageiam aproveitam-se das correntes de ar ascendentes e simplesmente planam. Isso acontece às vezes em grande alturas. Deste modo, economizam muita energia que gastariam se voassem ativamente. Porém, quando estão planando nesta atividade, por que às vezes o fazem na companhia de outros indivíduos? Por que não isoladamente? Penso que à medida que voam em uma altura maior amplia-se a área de prospecção à procura de carcaças de animais, que têm distribuição aleatória e sequer são tão abundantes, exceto em condições excepcionais, como nas planícies africanas. Nessa prospecção os urubus devem ser extremamente rápidos, pois o processo de decomposição das carcaças por meio de microorganismos é rápido, sem contar a capacidade especializada que outros animais necrófagos têm de aslocalizarem. Imagine qual a chance teria um urubu solitário de detectar o alimento? A chance de detecção deverá aumentar diretamente proporcional ao número de indivíduos que se junta aos demais para efetuar o forrageamento, até um limite máximo. Agora também imagine o que poderia acontecer quando um dos indivíduos de um grupo em forrageio identifica a carcaça antes dos demais? Ele deveria mudar o comportamento e ativamente voar em direção da carcaça. Porém, quando o faz, os outros seguem-no a fim de também obter sua "porção": todos estão com fome. Neste caso pode evoluir o comportamento de trapaça: é bom forragear juntos, mas não hora de se alimentar é melhor chegar antes e comer o fígado, que é mais nutritivo. Quem avista primeiro, voa em direção contrária e todos o seguem. Mas, em uma manobra repentina, o identificador toma a rota oposta e chega primeiro que os demais. Mesmo assim a competição é intensa: também uma carcaça para vários urubus e outros carniceiros? Uma conclusão válida é a de que vida de urubu não é fácil...

além de levantar várias questões sobre as estratégias comportamentais empregadas pelos urubus para sobreviver e reproduzir, esse exemplo leva a outras importantes considerações: observações naturalistas sobre o comportamento de um animal são absolutamente necessárias para a formulação de perguntas, hipóteses e previsões ecológico-evolutivas. Este é um dos métodos que dispomos para procurar entender o objeto de nosso estudo. Outro método é o de simplesmente acumular uma boa quantidade de informações e depois formular uma hipótese por meio da análise dessas informações como muitos naturalistas fizeram no século XIX.
Como podem perceber, são métodos de aquisição de conhecimento científico de características opostas, mas que tem o mesmo propósito e ambos são válidos, como argumentou o filósofo britânico Peter Lipton em artigo publicado em 2005 na Science.
Tecnicamente, o primeiro é chamado hipotético-dedutivo; o outro indutivo. Ambos são válidos apesar de o primeiro encontrar mais adeptos entre os ecólogos. Por que essa preferência? A leitura do trabalho de Lipton resolverá essa dúvida por um motivo nada especificamente científico, mas de cunho prático.
Voltemos ao princípio consequencialista. Por que temos como verdade que há sempre uma consequência resultante de qualquer ato ativo ou passivo? Antes, o que seria verdade? Essa é uma longa história pertencente às várias tradições filosóficas. Para cientistas o que importa é saber como poder dizer que algo é verdadeiro? O que garante o estatuto de verdade desse algo? Seria o que alguns cientistas falaram e outros repetiram? E se eles todos estiverem equivocados? Para afirmarmos que algo éverdadeiro, temos que ter certeza que não é ilusório e que esse algo tenha algumas propriedades que posso verificar por meio de meus cinco sentidos. Porém, há coisas em que acreditamos e não temos condição de captar por meio de nossos cinco sentidos, a não ser pela nossa imaginação e por meio de uma longa cadeia teórica que ateste, com segurança empiricamente comprovada, que nossa imaginação não é fantasiosa. Acreditamos em átomo e em partículas infra atômicas, mas há alguém já as viu sem que seja por meio de dispositivos? Acreditamos na seleção natural, mas alguém já a viu "trabalhando" por aí, sentiu-lhe o cheiro, a reconheceu pelo tato, ouviu- a se manifestar sonoramente, ou sentiu seu sabor? Ideia tem sabor?

Bibliografia citada:

Lipton, P. 2005. Testing hypothesis: Prediction and prejudice. Science 219 (307): 219- 221.
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Mensagem por Felipe Fonseca Dom Abr 03, 2016 4:51 am

Legal demais.

Pra quem puder ir, vai ser um grande diferencial na sua capacitação!

Sempre que tiver algum evento desse tipo ou defesas que podem interessar em nosso tema, vamos colocar aqui!

Tente ir em quantos conseguir cheers
Felipe Fonseca
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Mensagem por Maria Emília Seg Abr 11, 2016 7:21 pm

Valeu pela dica meninos!

Texto muito interessante e inspirador!
Infelizmente não pude participar da palestra do Prof. Parentoni, mas o texto já foi um grande incentivo!

Continuem mandando dicas! Wink

Maria Emília

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Mensagem por Murilo Teixeira Seg maio 09, 2016 1:48 pm

Excelente texto!!

Murilo Teixeira

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